27.3.09

SAMBA-CANÇÃO ao POETA ANTÔNIO CARLOS DE BRITO


Não por acaso: Cacaso

Cerzindo a palavra
Com letras de samba

Desenhando o descaso
Com olhares políticos
Na corda bamba,
A poesia rápida como a vida...

Viver no exílio da infância:
razão de quem não tem
e tem um pouquinho
Sabedor da geometria da alma:
Acaso de quem
frequenta amiúde
Amor, modernidade, alquimias sensuais,
bustos renascentistas,
bucetas e omoplatas,
capas e espadas

E sai, à surdina,
sem descaso, mas ao acaso
Sem deixar manchas, marcas,
rastros, restos, riscos sequer, vultos
migalhas de poesia...

Dá um último beijo na boca
e vai, pelo mar,
além das agonias,
Porque mar de mineiro é mar
sem margem
Marginal
Ao longe, além das fronteiras
e das tautologias
Assim, às soltas,
ao acaso, no ocaso...

Ah, Cacaso,
teu vômito tardio modela meu verso
tua voz ainda está incrustada
em minha fria atenção
teu poema me contempla horrorizado
pois contigo aprendi a fixar o feto
entre a náusea e o lençol,
pois assim é a tua poesia:
está chama tão distante
mas tão perto de estar fria...

E para evitar malentendidos,
digamos desde já que nos amamos.


¹Poema publicado na plaquete "Cacaso Não Por Acaso" composta por Fernanda Moraes e Mário Alex Rosa para a PorAcactus Editora, em março de 2009.
²Interpretado pelo Grupo "Gato Pingado" in Cenas Hurbanas, no evento "Poesia na Praça 7", em maio de 2009.