21.9.09

POR ONDE ANDARÁ DORA GRAY?

Pelos poemas que li
Pelos livros que queimei
Pelos signos tatuados pelo corpo

Pelos filmes que não vi
Pelos discos que arranhei
Pelas mãos, pelos pés, pelo rosto

Pelo reflexo no espelho
Pelas saídas de ar
Pelos buracos nas paredes do meu quarto

Pelas cartas que escrevi
Pelos objetos que encontrei
Pelas verdades que ficaram por contar

Pelas janelas que abri
Pelas plantas que reguei
Pelas Orquídeas, Hortências, Sempre-Vivas

Pelas casas que demoli
Pelos pulsos que cortei
Pelos bilhetes que agora estão rasgados

Pelas promessas que não fiz
Pelas vezes que voltei
Pelas madrugadas que saí sem avisar

Pelas família que eu não quis
Pelos amigos que matei
Pelos segredos que não foram revelados

Pelas coisas que ouvi
Pelas marcas que deixei
Por tudo o que eu sei e está guardado

Pelas saudades que senti
Pelos gritos que abafei
Pelo tormento que sempre me leva a perguntar

[d-e-s-e-s-p-e-r-a-d-a-m-e-n-t-e]:
- Por onde andará Dora Gray?



Poema publicado na 6ª edição da 2ª fase do DEZFACES, em abril de 2009.

*Breve Nota Explicativa: apesar da semelhança nos nomes, Dora Gray e Dorian Gray são seres absolutamente distintos: Dorian Gray, como muitos sabem, é personagem de uma das mais importantes obras do escritor Oscar Wilde e, Dora Gray é pseudônimo de uma famosa jornalista carioca que atingiu o auge da sua carreira nos anos 70 e foi dada como morta meses depois do seu súbito desaparecimento. Até hoje não se sabe do seu paradeiro.