25.2.10

TRÊS TEMPOS PARA GLAUBER ROCHA

(ou NINIBIOGRAFIA DO FOGO)

I.

E quando nascemos, o sertão era um campo minado.
E quando crescemos, nada mais valia.
E quando chegamos, enfrentamos um barravento.
E quando fugimos, estávamos à sós: sem gado e sem chão.

E quando esquecemos, as lembranças nos saudavam.
E quando voltamos, vimos a terra revolvida.

E quando choramos, tivemos nossas almas remexidas.
E quando lutamos, nada mais fazia sentido,
O círculo estava fechado e éramos perseguidos por Antônio das Mortes.

E quando sentimos, um poeta escreveu:
“ó querido Glauber, consumiu-se em seu próprio fogo.”
E quando tentamos, a terra estava em transe.
E quando morremos, seus olhos permaneceram aqui.



II.

Agora somos controvertidos.
Agora escrevemos e pensamos cinema.
Agora somos elementos subversivos.
Agora queremos uma arte engajada ao pensamento.
Agora pregamos uma nova eztetyka.
Agora bebemos em Nietzsche e Schopenhauer.
Agora em que cinema você acredita?
Agora temos uma palavra de ordem.
Agora nossos negativos viraram filme.
Agora temos um “Pátio”.
Agora nossos olhos tem 16mm.
Agora trocamos um carro por Arriflex 35mm.
Agora ensinamos Truffaut a fazer cinema.
Agora somos violentos e fetichistas.
Agora esbanjamos a beleza satânica da mulher.
Agora temos um cinema novo.
Agora estamos nus diante do abismo.
Agora somos só eu-você e Glauber.



III.

COISAS A FAZER EM PARIS

1.Mudar de apartamento
2.Escrever um livro
3.Provocar um Barravento
4.Comprar um navio
5.Inventar o Cinema Novo
6.Redesenhar a América
7.Arfar com os Bouquinistes
8.Revolver a Terra em Transe
9.Minar o Louvre
10.Recriar a ortographya
11.Lançar um manifesto
12.Incinerar Truffaut
13.Beber Perrier Joüet
14.Brindar com Deus e o Diabo
15.Saldar a Revolução.