O homem que eu amo
Me enche de cuidados
Ele lambe minhas feridas
Até cicatrizá-las todas
Com as enzimas curativas
De sua saliva.
O homem que eu amo
Me cobre de delicadezas
Penteia meus cabelos
Com seus dedos finos
Umedece minha boca
Com seus lábios macios.
O homem que eu amo
Se doa para mim todas as noites
Me faz adormecer entre suas pernas
Me abre os braços
Com o aconchego de uma mãe.
O homem que eu amo
Guarda meu sono dentro dos olhos silenciosos
Que enfeitam seu rosto,
Dentro do corpo que se dá ao deleite
Nas madrugadas em que meus nervos vão à flor da pele.
O homem que eu amo
Entende de todas as coisas
Fala a língua dos meus desejos
Me prende em suas fibras,
Suas fímbrias,
Suas ficções e febres
Compreende a (in)disciplina do amor.
O homem que eu amo
Me coroa todos os dias
Arranca todo o mal
Que parasita meu corpo
Me envolvendo num casulo
Cuidadosamente elaborado
Pelos finos fios vermelhos
Que saem dos seus delicados mamilos.
*Poema incidental: "As lágrimas amargas da felicidade" de Marcelo Dolabela. Inspirado no poema "OHQEA vai passar para a outra vida sem parar de respirar", de Adriana Versiani.
Poema escrito exclusivamente para a performance "Unravels", realizada no dia 26 de junho de 2010, na Quina Galeria (BH, MG), em parceria com o ator Brunno Oliveira.