8.3.11

1.3.11

7:45pm

Penso nele e não penso. É saudade e não é. Uma dor enraizada no peito. Rabisco páginas de cadernos tão antigos, diários íntimos. Só a solidão é capaz de esconder. Nem o silêncio me confessa. Não tenho pressa de sentir, mas a angústia me provoca enjôo, vômito, náuseas terríveis. Ouço "Elis&Tom". Whiskies, cigarros, agendas me lembrando o esquecimento de amanhã. Se eu for, não quero voltar. Não quero deixar marcas. A pior das hipóteses é partir, deixar o terço e a reza e sumir. Deixar este lugar-comum, este deserto d'alma. Nem a solidão é capaz de dizer. Bem verdade é que prefiro solitude a solidão. Penso no esquecimento. É raro pensar assim: tão intenso, tão difícil. Rasgo todo e qualquer registro. Ato-falho.

9:58pm

Ele ainda está aqui. Sinto suas vibrações nas entrelinhas dos cadernos. Seus olhos atravessam as paredes da sala. O relógio se move quase que imperceptível. Tic, tac... Tic, tac... Tic, tac... Falta pouco mais de um dia, um pouco mais de coragem, um pouco mais de silêncio. O whisky, o cigarro, a máquina que não pára de escrever. Os dedos doem, o medo dói, os nervos doem, a boca dói, a língua mordida sangra e dói, o corpo inteiro submerso. Sinto suas falhas no que esqueço de dizer. Volto aos meus princípios. Era o fim e agora já é um recomeço. Um velho recomeço que sempre traço pelo fim. Esta mesma carta batida, rebatida, marcada pela tinta que escorre entre os dedos. Tanta pressão nas palavras. Pra quê? Pra onde? Pra quem?

10:47pm

Os dedos ainda doem...

11:35pm

É que quando a dor consome o corpo, nada mais se acomoda. A gente perde mesmo o rumo de tudo tentando dar sentido às coisas. Perde a linha, o texto, a trama, mas perder o chão não é pra qualquer um. Desde pequeno ouço dizer que Deus não dá asa à cobra. Voar talvez seria uma solução, mas aqui o abismo não é blanchotiano e a queda é tão terrível que esmaga. Queria poder me livrar, me esquecer, me dispersar, me curar deste câncer, mas o amor é pesado demais e vai pesando a memória, vai pesando as lembranças, vai pesando tudo a nossa volta. O amor é pesado demais, a dor, pior ainda, e o corpo é tão leve pra ser sóbrio, tão pequeno pra ser sábio. A externalização do que sentimos é que é o grande perigo. Dizer é o maior dos pecados, ainda mais do que sentir. Somos tão frágeis e ao mesmo tempo tão radicais. Escolhemos nossas próprias dores ao inventarmos nossos amores perfeitos. "Pode ser que não voltes nunca mais..."

11:59pm

Inútil paisagem...